terça-feira, 24 de julho de 2018

REVELANDO O DIABO


REVELANDO O DIABO
 “A glória de Deus está nas coisas encobertas; mas a honra dos reis, está em descobri-las.” (Pv 25.2)

                  A palavra Lúcifer tem origem do latim, LUCIS = LUZ; FERRE = CARREGAR. Portanto, Lúcifer significa: “o que traz a luz”. Era um nome dado, na antiguidade, para o planeta Vênus. Vênus, devido sua proximidade ao sol, aparece antes do amanhecer e do anoitecer. Isto, para os antigos, era como se Vênus puxasse o astro rei de seu sono para criar as manhãs. E, no entardecer, o empurrasse de volta, para as regiões obscuras, abissais. Daí, portanto, dando origem ao seu nome, Lúcifer, “o que traz a luz”. Vênus também é conhecido, pelo mesmo motivo, como a “estrela d’alva”, “estrela da manhã” e “estrela vespertina”.
             Em nenhum momento na Bíblia seu nome aparece como sinônimo para Demônio. Tal associação surge, posteriormente, devido a uma má interpretação de uma passagem bíblica do Velho Testamento, cujo o profeta Isaías, assim nos relata: “Como caíste do céu, ó Lúcifer, filho da manhã”, ou mais precisamente:

Isaías 14:12-14
12 - Como caíste desde o céu, ó estrela da manhã, filha da alva! Como foste cortado por terra, tu que debilitavas as nações!
13 - E tu dizias no teu coração: Eu subirei ao céu, acima das estrelas de Deus exaltarei o meu trono, e no monte da congregação me assentarei, aos lados do norte.
14 - Subirei sobre as alturas das nuvens, e serei semelhante ao Altíssimo.

                O que o profeta nos relata não é a queda de um anjo demoníaco, mas a morte do rei da Babilônia, Nabucodonosor, identificado metaforicamente à Lúcifer (o planeta Vênus), pelo pecado da luxúria que era, então, associado a Vênus. Posteriormente esta passagem será associada à origem do Diabo. Isto é tão verdadeiro, que as próprias palavras de Jesus comprovam que tal nome, não poderia ser associado a algo mal:

Apocalipse 22:16
16 - Eu, Jesus, enviei o meu anjo, para vos testificar estas coisas nas igrejas. Eu sou a raiz e a geração de Davi, a resplandecente estrela da manhã.

                Portanto, Jesus é Lúcifer, isso mesmo, para seu espanto, pois, Jesus, tal qual a estrela da manhã (Lúcifer), é aquele que traz a luz, o iluminado.
O DIABO NA BÍBLIA – Antigo Testamento.

                No Antigo Testamento não existe a palavra “Diabo”. É no cristianismo que se vai desenvolver o significado de “diabo”. No Antigo Testamento apenas três passagens:

Gênesis 3:1-5
1 - ORA, a serpente era mais astuta que todas as alimárias do campo que o SENHOR Deus tinha feito. E esta disse à mulher: É assim que Deus disse: Não comereis de toda a árvore do jardim?
2 - E disse a mulher à serpente: Do fruto das árvores do jardim comeremos,
3 - Mas do fruto da árvore que está no meio do jardim, disse Deus: Não comereis dele, nem nele tocareis para que não morrais.
4 - Então a serpente disse à mulher: Certamente não morrereis.
5 - Porque Deus sabe que no dia em que dele comerdes se abrirão os vossos olhos, e sereis como Deus, sabendo o bem e o mal.

Levítico 16:20-22
20 - Havendo, pois, acabado de fazer expiação pelo santuário, e pela tenda da congregação, e pelo altar, então fará chegar o bode vivo.
21 - E Arão porá ambas as suas mãos sobre a cabeça do bode vivo, e sobre ele confessará todas as iniquidades dos filhos de Israel, e todas as suas transgressões, e todos os seus pecados; e os porá sobre a cabeça do bode, e enviá-lo-á ao deserto, pela mão de um homem designado para isso.
22 - Assim aquele bode levará sobre si todas as iniquidades deles à terra solitária; e deixará o bode no deserto.

Jó 1:6-7
6 - E num dia em que os filhos de Deus vieram apresentar-se perante o SENHOR, veio também Satanás entre eles.
7 - Então o SENHOR disse a Satanás: Donde vens? E Satanás respondeu ao SENHOR, e disse: De rodear a terra, e passear por ela.


                Com relação ao episódio da serpente, provavelmente foi escrito por influência de mitologias ou lendas de culturas do Oriente Médio com as quais os judeus tiveram contato. Nessas culturas, a serpente era símbolo de sabedoria, astúcia e poderes maléficos, por isso, ela foi posteriormente associada ao Diabo.
                A simbologia do bode expiatório é riquíssima e um tanto controvertida. Teses e mais teses já foram escritas. Umas identificam o bode expiatório como Jesus porque este carrega as culpas e é morto no deserto; outros defendem que o bode expiatório é o Diabo porque este é responsável pela culpa dos humanos, já que fez os primeiros pais pecarem, o primeiro Adão falhar. O importante é frisar que, com o tempo, o bode passou a ser associado somente ao Diabo.
                O livro mais filosófico de todo o Antigo Testamento é o Livro de Jó. Neste livro, Deus provoca Satanás para uma disputa, na qual os dois observariam tudo do camarote. , Satanás, provavelmente, um dos filhos de Deus que frequentava o céu com muita intimidade e liberdade. Jó por duas vezes é provado sem clemência alguma.
                Na primeira, Deus permite que Satanás tire tudo de Jó: fazendas, filhos, servos, bens, e este vence. Não satisfeito, pela segunda vez, Deus o envia para a beira do abismo e permite que Satanás toque em sua carne, Jó não renega a Deus e triunfa novamente. A alma de Jó é oferecida numa bandeja para Satanás, pois há um pacto entre Deus e Satanás. Mas, Jó não sabia de pacto algum.
                Dezenas de teses e livros já foram escritos sobre Jó e, a partir destes, permitimo-nos fazer algumas considerações. O Livro de Jó consiste em uma teologia do sofrimento, pois nele, pela primeira vez, o caráter e a justiça de Deus são questionados por um pobre mortal, que sofre muito além de suas forças. Em verdade, o confronto não se dá entre Satanás e Jó, mas entre Deus e Jó, uma vez que Satanás é apenas um instrumento para realizar a vontade de Deus. Jó questiona a justiça divina e Deus, mas, não responde ao que ele pergunta. Deus não mostra sua justiça, mas seu poder, como soberano em todos os acontecimentos.
                Aí surge a pergunta: se Deus é onisciente, por que provocou Satanás? Imagina Jó sofrendo em um mundo governado por um deus que faz apostas com o demônio, manipulado e controlado por um demônio. Enfim, revela-nos um mundo regido por dois demônios orgulhosos e, a partir daí, o caráter do Senhor Deus. O imenso discurso de Deus de nada serve. Deus não fala mais no restante do Antigo Testamento.
                No Antigo Testamento, não existe a figura do Diabo. Tanto o bem quanto o mal procedem de Deus. Citamos alguns exemplos: a destruição de Sodoma e Gomorra, a Torre de Babel e as dez pragas do Egito. Na História geral do Diabo, Messadié (2001, p. 303) corrobora nosso pensamento e afirma:

Deus é assim, no Antigo Testamento, simultaneamente o Bem e o Mal. O Diabo não é senão o seu servidor e nunca se encontra o conflito que colora tão fortemente o Novo Testamento, onde o Diabo aparece sempre como o inimigo de Deus e o Príncipe deste mundo, em oposição ao Rei dos céus [...] a teologia do Antigo Testamento não concebe senão um polo único no universo, e o Diabo nunca tem aí senão um papel conforme a vontade do Criador. Satanás é o Mal? Não, ele é o sofrimento pretendido pela vontade de Deus. História geral do Diabo, Messadié (2001, p. 303).


O DIABO NA BÍBLIA – Novo Testamento.

                O Novo Testamento já inicia com o episódio envolvendo o Diabo: a famosa tentação de Jesus, relatada em Mateus 4: 1-11.

Mateus 4:1-11
1 - ENTÃO foi conduzido Jesus pelo Espírito ao deserto, para ser tentado pelo diabo.
2 - E, tendo jejuado quarenta dias e quarenta noites, depois teve fome;
3 - E, chegando-se a ele o tentador, disse: Se tu és o Filho de Deus, manda que estas pedras se tornem em pães.
4 - Ele, porém, respondendo, disse: Está escrito: Nem só de pão viverá o homem, mas de toda a palavra que sai da boca de Deus.
5 - Então o diabo o transportou à cidade santa, e colocou-o sobre o pináculo do templo,
6 - E disse-lhe: Se tu és o Filho de Deus, lança-te de aqui abaixo; porque está escrito: Que aos seus anjos dará ordens a teu respeito, E tomar-te-ão nas mãos, Para que nunca tropeces em alguma pedra.
7 - Disse-lhe Jesus: Também está escrito: Não tentarás o Senhor teu Deus.
8 - Novamente o transportou o diabo a um monte muito alto; e mostrou-lhe todos os reinos do mundo, e a glória deles.
9 - E disse-lhe: Tudo isto te darei se, prostrado, me adorares.
10 - Então disse-lhe Jesus: Vai-te, Satanás, porque está escrito: Ao Senhor teu Deus adorarás, e só a ele servirás.
11 - Então o diabo o deixou; e, eis que chegaram os anjos, e o serviam.

                Ele é descrito como o tentador, mas Jesus não se assusta com sua presença, parecem conhecidos de longa data. Se pensarmos na inteligência e na magnífica revolta de Lúcifer, que levou consigo a terça parte dos anjos, as perguntas do Diabo são simplesmente ridículas. Como todos sabem, Jesus resiste à tentação. Em todo o Novo Testamento são muitos os casos de possessão demoníaca como, por exemplo, o endemoninhado de Gadara. Jesus curou diversos endemoninhados e a palavra demônio passou a ser associada ao Diabo.
                Aqui temos um problema com a etimologia da palavra. No Velho Testamento, Satan é uma palavra hebraica que significa adversário. Em Jó, Satanás é um Membro do Conselho de Deus. Até aqui, Satan não é o Diabo, só se tornará o Diabo pelos comentaristas cristãos. O problema ocorre quando o Diabo passa a ser designado pela palavra dáimon ou demônio. Link (1998, p. 25) esclarece que ―dáimon era um espírito mediador entre deuses e homens.
           Esse dáimon poderia ser um espírito bom ou perverso, porém, na tradução do Novo Testamento para o grego, a palavra dáimon manteve somente a acepção de espírito do mal. Aqui está, portanto, a origem do termo endemoninhado: aqueles que estavam possuídos pelo Diabo. Na obra Antes que os Demônios voltem, Quevedo esclarece que todos os casos de possessão demoníaca do Novo Testamento estavam associados a pessoas com sérios distúrbios psíquicos.
                O Novo Testamento se desenrola e o Diabo progride junto com ele. O evangelista Lucas informa que Satanás entrou em Judas e, por isso, Judas traiu Jesus. Deduzimos, portanto, que Judas é inocente. O próprio Jesus foi acusado pelos fariseus de estar endemoninhado já que, segundo eles, expulsava demônios pelo poder de Belzebu. Lucas (4: 34) faz com que os demônios sejam os primeiros a reconhecerem a divindade de Jesus ao afirmarem: ―Ah! Que temos nós contigo, Jesus Nazareno?... Bem sei que és o santo de Deus!
                O evangelista João o aponta como sendo homicida desde o princípio do mundo, “pai da mentira, e príncipe do mundo”. Na sequência, o apóstolo Paulo, em todas as suas cartas, amedronta os cristãos de sua época fomentando a existência do Diabo. É São Pedro (5:8) quem afirma em seu evangelho: “Sede sóbrios e vigilantes. O diabo, vosso adversário, anda de derredor, como o leão que ruge procurando alguém para devorar; resisti-lhe firmes na fé”. É no Apocalipse, entretanto, escrito em torno do ano 100 d.C., que finalmente é estabelecida a conexão entre a revolta de Lúcifer, que levou a queda deste e da terça parte dos anjos; a queda de Adão e Eva no episódio da serpente no paraíso; a tentação de Jesus; e o grande Armagedon: batalha final do bem contra o mal.
               

Apocalipse 12:7-9
7 - E houve batalha no céu; Miguel e os seus anjos batalhavam contra o dragão, e batalhavam o dragão e os seus anjos;
8 - Mas não prevaleceram, nem mais o seu lugar se achou nos céus.
9 - E foi precipitado o grande dragão, a antiga serpente, chamada o Diabo, e Satanás, que engana todo o mundo; ele foi precipitado na terra, e os seus anjos foram lançados com ele.

                Robert Muchembled, no livro Uma história do Diabo, resume as conexões da trajetória de Lúcifer/Serpente/Satanás/Diabo:

Precisaram, assim, casar a história da serpente com a do rebelde, do tirano, do tentador, do sedutor concupiscente e do dragão todo-poderoso. Um autor declarou recentemente que a vitória do cristianismo neste domínio consistiu em tomar emprestado um dos mais importantes modelos narrativos do Oriente Próximo: o mito cósmico do combate primordial entre os deuses, que tem na condição humana seu desafio fundamental. Esta versão pode, segundo ele, ser assim resumida: um diabo rebelde ao poder de Jeová faz da terra uma extensão de seu império para nela reinar pelo poder do pecado e da morte. ―Deus deste mundo‖, como o denomina São Paulo, ele é combatido pelo filho do Criador, o Cristo, por ocasião do mais misterioso episódio da história cristã, a Crucificação, que combina uma derrota e uma vitória simultâneas. A função de Cristo no decurso dessa luta, que só terminará no fim dos tempos, é ser o libertador potencial da humanidade, em confronto com Satã, seu adversário por excelência (MUCHEMBLED, 2001, p. 19).

               
INICIO DE UMA CONCLUSÃO
               
                Poderíamos chegar a uma conclusão de que o mesmo Deus que faz o bem cria o mal. No fim de tudo ele é o principal gerador de todas as coisas tanto o bem quanto o mal. Os textos Sagrados narram Sua identidade, mas Deus está escondido para muitos. Apenas os iluminados, “escolhidos”, ou aqueles que desejam e buscam a verdade poderão ver sua glória.

“A glória de Deus está nas coisas encobertas; mas a honra dos reis, está em descobri-las.” (Pv 25.2)

Daniel 2:28
Mas há um Deus no céu, o qual revela os mistérios:


Daniel 2:29
Estando tu, ó rei, na tua cama, subiram os teus pensamentos, acerca do que há de ser depois disto. Aquele, pois, que revela os mistérios te fez saber o que há de ser.


Mateus 13:11
Ele, respondendo, disse-lhes: Porque a vós é dado conhecer os mistérios do reino dos céus, mas a eles não lhes é dado;


Lucas 8:10
 E ele disse: A vós vos é dado conhecer os mistérios do reino de Deus, mas aos outros por parábolas, para que vendo, não vejam, e ouvindo, não entendam.


I Corintios 4:1
QUE os homens nos considerem como ministros de Cristo, e despenseiros dos mistérios de Deus.


Continua.........
                                                                                              Rv. Roberto Muzy

2 comentários:

  1. Este comentário foi removido pelo autor.

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  2. Um belo texto. A maior parte dessas informações eu tive acesso em um ou outro texto, mas alguns pontos foram realmente agregadores, que seriam:

    - A Estrela da Manhã como Vênus, e dessa forma ligada a deusa Vênus/Afrodite, com sua luxúria comparada a vaidade do rei.

    - E o bode expiatório da passagem sendo comparado ao Diabo.

    Seu comentário sobre o livro de Jó me lembrou o que li no livro "Deus - uma biografia", assim como a figura da serpente ser ligada à deuses da região. Embora no livro, o autor chegue a enxergar no Deus que envia o dilúvio uma fusão com Tiamat, a serpente das águas.

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