quinta-feira, 23 de novembro de 2017

Uma pequena análise e comentário da música “Cotidiano” de Chico Buarque (1971)

Uma pequena análise e comentário da música “Cotidiano” de Chico Buarque (1971)

O título da música “Cotidiano” já remete o leitor a algo que acontece diariamente. No dicionário Houaiss, cotidiano pode significa um conjunto de ações realizadas por alguém todos os dias. E, pensando nisso, podemos observar que a letra da música se divide em cinco estrofes, não contaríamos o sexto, pois este pode ser entendido como um refrão. Então, as cinco podem ser entendidas como cinco momentos do dia de um casal. Cada momento marcado pelo conjunto de quatro versos. Isso posto, vamos aplicá-lo na análise de cada porção, procurando comparar a vida de um dia de um casal a música.

Na música em questão, uma pessoa, homem ou mulher, narraria as ações de sua companheira, isso pode ser definido pelo uso do pronome “ela” nos versos. Apesar que na década de 80 esse tipo de discussão, homem, mulher, dificilmente seria discutido. Mas adotaremos uma relação de um homem e uma mulher. Não querendo esgotar outros tipos de relação, pois está aberto a novos tipos de análise.
Os primeiros versos descrevem as horas iniciais do dia. O acordar. As seis da manhã começa o dia do casal, mas quem assume as ações é a mulher, ela “sorri”, “beija”. O sabor do beijo, hortelã, mostra que a companheira acordou primeiro e se preparou para acordá-lo.

O segundo grupo de versos, continua sendo a mulher impulsionadora das ações. Ela se preocupa, “diz que é pra eu me cuidar”, e antecipa que o jantar estará pronto quando ele chegar. O “beijo de café” demonstra que o casal tomou café junto. E agora ele sai para trabalhar.

A terceira porção de versos, já não temos a mulher como pivô das ações, mas agora o manifestar dele, homem, pessoa que a todo tempo narrou as ações dela. É uma pequena reflexão num dia de fadiga no trabalho, “só penso em poder parar”, “só penso em dizer não”. No primeiro momento, pareceu-nos que queria terminar com aquela situação cotidiana. Mas, ao continuar a leitura, as palavras “penso na vida pra levar” nos fez entender que o trabalho era um momento difícil de superar, mas de extrema necessidade. O trabalho o sufoca, mas também, o separa de momentos felizes, mas era necessário continuar nele para manter aquele “cotidiano”. Por isso, ele escolhe “me calo com a boca de feijão”.

Os versos da quarta porção, descrevem a chegada dele e a receptividade da companheira. As palavras, “como era de se esperar”, marcam os limites sociais desse casal. Isto é, um trabalha e o outro fica em casa. O primeiro apático, cansado, e outra, cheia de paixão. A companheira se torna como um porto seguro para um dia fatigante.

A quinta porção, parece ser uma complementação do anterior, mas agora, se aprofunda nos sentimentos dessa companheira. Descreve uma companheira, agora, preocupada com a relação. As demonstrações de carinho são mais intensas, “diz pra eu não me afastar”, “jura eterno amor”, “me aperta pra eu quase sufocar”, “me morde com a boca de pavor”. A preocupação da companheira agora é exposta. Ela precisa manter esta relação. O companheiro é aquele que prover a manutenção daquele cotidiano, precisa, como uma plantinha, ser regado para se manter forte e viva. Explicaria, assim, todas as atitudes que faz durante o cotidiano.

Então, após esta análise, poderíamos dizer que além de descrever a relação de um casal, pode nos dar uma visão dos papeis sociais do homem e da mulher nesse cotidiano do início da década de 80. O homem preocupado com a manutenção financeira, pois ele trabalha, já a mulher, aquela que cuida do lar. Cada um no seu jogo particular de manter a família. Pergunto: amor ou provisão estariam aqui arroladas no mais íntimo de cada ser dessa relação.

Professor Roberto Muzy

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