REVELANDO O DIABO
“A glória de Deus
está nas coisas encobertas; mas a honra dos reis, está em descobri-las.” (Pv
25.2)
A palavra Lúcifer tem origem do
latim, LUCIS = LUZ; FERRE = CARREGAR. Portanto, Lúcifer significa: “o que traz
a luz”. Era um nome dado, na antiguidade, para o planeta Vênus. Vênus, devido
sua proximidade ao sol, aparece antes do amanhecer e do anoitecer. Isto, para
os antigos, era como se Vênus puxasse o astro rei de seu sono para criar as
manhãs. E, no entardecer, o empurrasse de volta, para as regiões obscuras,
abissais. Daí, portanto, dando origem ao seu nome, Lúcifer, “o que traz a luz”.
Vênus também é conhecido, pelo mesmo motivo, como a “estrela d’alva”, “estrela
da manhã” e “estrela vespertina”.
Em
nenhum momento na Bíblia seu nome aparece como sinônimo para Demônio. Tal
associação surge, posteriormente, devido a uma má interpretação de uma passagem
bíblica do Velho Testamento, cujo o profeta Isaías, assim nos relata: “Como
caíste do céu, ó Lúcifer, filho da manhã”, ou mais precisamente:
Isaías 14:12-14
12 - Como caíste desde o céu, ó estrela da manhã, filha
da alva! Como foste cortado por terra, tu que debilitavas as nações!
13 - E tu dizias no teu coração: Eu subirei ao céu, acima
das estrelas de Deus exaltarei o meu trono, e no monte da congregação me
assentarei, aos lados do norte.
14 - Subirei sobre as alturas das nuvens, e serei
semelhante ao Altíssimo.
O que o profeta nos relata não é
a queda de um anjo demoníaco, mas a morte do rei da Babilônia, Nabucodonosor,
identificado metaforicamente à Lúcifer (o planeta Vênus), pelo pecado da
luxúria que era, então, associado a Vênus. Posteriormente esta passagem será
associada à origem do Diabo. Isto é tão verdadeiro, que as
próprias palavras de Jesus comprovam que tal nome, não poderia ser associado a
algo mal:
Apocalipse 22:16
16 - Eu, Jesus, enviei o meu anjo, para vos testificar
estas coisas nas igrejas. Eu sou a raiz e a geração de Davi, a resplandecente
estrela da manhã.
Portanto,
Jesus é Lúcifer, isso mesmo, para seu espanto, pois, Jesus, tal qual a estrela
da manhã (Lúcifer), é aquele que traz a luz, o iluminado.
O DIABO NA BÍBLIA – Antigo Testamento.
No Antigo Testamento não existe
a palavra “Diabo”. É no cristianismo que se vai desenvolver o significado de
“diabo”. No Antigo Testamento apenas três passagens:
Gênesis 3:1-5
1 - ORA, a serpente era mais astuta que todas
as alimárias do campo que o SENHOR Deus tinha feito. E esta disse à mulher: É
assim que Deus disse: Não comereis de toda a árvore do jardim?
2 - E disse a mulher à serpente: Do fruto das
árvores do jardim comeremos,
3 - Mas do fruto da árvore que está no meio
do jardim, disse Deus: Não comereis dele, nem nele tocareis para que não
morrais.
4 - Então a serpente disse à mulher:
Certamente não morrereis.
5 - Porque Deus sabe que no dia em que dele
comerdes se abrirão os vossos olhos, e sereis como Deus, sabendo o bem e o mal.
Levítico 16:20-22
20 - Havendo, pois, acabado de fazer expiação
pelo santuário, e pela tenda da congregação, e pelo altar, então fará chegar o
bode vivo.
21 - E Arão porá ambas as suas mãos sobre a
cabeça do bode vivo, e sobre ele confessará todas as iniquidades dos filhos de
Israel, e todas as suas transgressões, e todos os seus pecados; e os porá sobre
a cabeça do bode, e enviá-lo-á ao deserto, pela mão de um homem designado para
isso.
22 - Assim aquele bode levará sobre si todas
as iniquidades deles à terra solitária; e deixará o bode no deserto.
Jó 1:6-7
6 - E num dia em que os filhos de Deus vieram
apresentar-se perante o SENHOR, veio também Satanás entre eles.
7 - Então o SENHOR disse a Satanás: Donde
vens? E Satanás respondeu ao SENHOR, e disse: De rodear a terra, e passear por
ela.
Com
relação ao episódio da serpente, provavelmente foi escrito por influência de
mitologias ou lendas de culturas do Oriente Médio com as quais os judeus
tiveram contato. Nessas culturas, a serpente era símbolo de sabedoria, astúcia
e poderes maléficos, por isso, ela foi posteriormente associada ao Diabo.
A
simbologia do bode expiatório é riquíssima e um tanto controvertida. Teses e
mais teses já foram escritas. Umas identificam o bode expiatório como Jesus
porque este carrega as culpas e é morto no deserto; outros defendem que o bode
expiatório é o Diabo porque este é responsável pela culpa dos humanos, já que
fez os primeiros pais pecarem, o primeiro Adão falhar. O importante é frisar
que, com o tempo, o bode passou a ser associado somente ao Diabo.
O livro
mais filosófico de todo o Antigo
Testamento é o Livro de Jó. Neste livro, Deus provoca Satanás para
uma disputa, na qual os dois observariam tudo do camarote. , Satanás,
provavelmente, um dos filhos de Deus que frequentava o céu com muita intimidade
e liberdade. Jó por duas vezes é provado sem clemência alguma.
Na
primeira, Deus permite que Satanás tire tudo de Jó: fazendas, filhos, servos,
bens, e este vence. Não satisfeito, pela segunda vez, Deus o envia para a beira
do abismo e permite que Satanás toque em sua carne, Jó não renega a Deus e
triunfa novamente. A alma de Jó é oferecida numa bandeja para Satanás, pois há
um pacto entre Deus e Satanás. Mas, Jó não sabia de pacto algum.
Dezenas
de teses e livros já foram escritos sobre Jó e, a partir destes, permitimo-nos
fazer algumas considerações. O Livro de Jó consiste em uma teologia do sofrimento,
pois nele, pela primeira vez, o caráter e a justiça de Deus são
questionados por um pobre mortal, que sofre muito além de suas forças. Em
verdade, o confronto não se dá entre Satanás e Jó, mas entre Deus e Jó, uma vez
que Satanás é apenas um instrumento para realizar a vontade de Deus. Jó
questiona a justiça divina e Deus, mas, não responde ao que ele pergunta. Deus
não mostra sua justiça, mas seu poder, como soberano em todos os acontecimentos.
Aí
surge a pergunta: se Deus é onisciente, por que provocou Satanás? Imagina Jó
sofrendo em um mundo governado por um deus que faz apostas com o demônio,
manipulado e controlado por um demônio. Enfim, revela-nos um mundo regido por
dois demônios orgulhosos e, a partir daí, o caráter do Senhor Deus. O imenso
discurso de Deus de nada serve. Deus não fala mais no restante do Antigo Testamento.
No Antigo Testamento, não existe a
figura do Diabo. Tanto o bem quanto o mal procedem de Deus. Citamos alguns
exemplos: a destruição de Sodoma e Gomorra, a Torre de Babel e as dez pragas do
Egito. Na História geral do Diabo, Messadié (2001, p. 303) corrobora
nosso pensamento e afirma:
Deus é assim, no Antigo Testamento, simultaneamente o Bem e o Mal. O Diabo
não é senão o seu servidor e nunca se encontra o conflito que colora tão
fortemente o Novo Testamento,
onde o Diabo aparece sempre como o inimigo de Deus e o Príncipe deste mundo, em oposição ao Rei dos céus [...] a
teologia do Antigo Testamento não
concebe senão um polo único no universo, e o Diabo nunca tem aí senão um papel
conforme a vontade do Criador. Satanás é o Mal? Não, ele é o sofrimento pretendido pela vontade de Deus. História
geral do Diabo, Messadié (2001, p. 303).
O DIABO NA BÍBLIA – Novo Testamento.
O Novo Testamento já inicia com
o episódio envolvendo o Diabo: a famosa tentação de Jesus, relatada em Mateus 4:
1-11.
Mateus 4:1-11
1 - ENTÃO foi
conduzido Jesus pelo Espírito ao deserto, para ser tentado pelo diabo.
2 - E, tendo jejuado
quarenta dias e quarenta noites, depois teve fome;
3 - E, chegando-se a
ele o tentador, disse: Se tu és o Filho de Deus, manda que estas pedras se
tornem em pães.
4 - Ele, porém,
respondendo, disse: Está escrito: Nem só de pão viverá o homem, mas de toda a
palavra que sai da boca de Deus.
5 - Então o diabo o
transportou à cidade santa, e colocou-o sobre o pináculo do templo,
6 - E disse-lhe: Se tu
és o Filho de Deus, lança-te de aqui abaixo; porque está escrito: Que aos seus
anjos dará ordens a teu respeito, E tomar-te-ão nas mãos, Para que nunca
tropeces em alguma pedra.
7 - Disse-lhe Jesus:
Também está escrito: Não tentarás o Senhor teu Deus.
8 - Novamente o
transportou o diabo a um monte muito alto; e mostrou-lhe todos os reinos do
mundo, e a glória deles.
9 - E disse-lhe: Tudo
isto te darei se, prostrado, me adorares.
10 - Então disse-lhe
Jesus: Vai-te, Satanás, porque está escrito: Ao Senhor teu Deus adorarás, e só
a ele servirás.
11 - Então o diabo o
deixou; e, eis que chegaram os anjos, e o serviam.
Ele é
descrito como o tentador, mas Jesus não se assusta com sua presença, parecem
conhecidos de longa data. Se pensarmos na inteligência e na magnífica revolta
de Lúcifer, que levou consigo a terça parte dos anjos, as perguntas do Diabo
são simplesmente ridículas. Como todos sabem, Jesus resiste à tentação. Em todo
o Novo Testamento são
muitos os casos de possessão demoníaca como, por exemplo, o endemoninhado de
Gadara. Jesus curou diversos endemoninhados e a palavra demônio passou a ser
associada ao Diabo.
Aqui
temos um problema com a etimologia da palavra. No Velho Testamento, Satan
é uma palavra hebraica que significa adversário. Em Jó, Satanás é um
Membro do Conselho de Deus. Até aqui, Satan
não é o Diabo, só se tornará o Diabo pelos comentaristas cristãos. O
problema ocorre quando o Diabo passa a ser designado pela palavra dáimon ou
demônio. Link (1998, p. 25) esclarece que ―dáimon era um espírito
mediador entre deuses e homens.
Esse dáimon
poderia ser um espírito bom ou perverso, porém, na tradução do Novo Testamento para o grego,
a palavra dáimon manteve somente a acepção de espírito do mal. Aqui
está, portanto, a origem do termo endemoninhado: aqueles que estavam possuídos
pelo Diabo. Na obra Antes que os Demônios voltem, Quevedo esclarece que
todos os casos de possessão demoníaca do Novo
Testamento estavam associados a pessoas com sérios distúrbios
psíquicos.
O Novo Testamento se desenrola e
o Diabo progride junto com ele. O evangelista Lucas informa que Satanás entrou
em Judas e, por isso, Judas traiu Jesus. Deduzimos, portanto, que Judas é
inocente. O próprio Jesus foi acusado pelos fariseus de estar endemoninhado já
que, segundo eles, expulsava demônios pelo poder de Belzebu. Lucas (4: 34) faz
com que os demônios sejam os primeiros a reconhecerem a divindade de Jesus ao
afirmarem: ―Ah! Que temos nós contigo, Jesus Nazareno?... Bem sei que és o
santo de Deus!
O
evangelista João o aponta como sendo homicida desde o princípio do mundo, “pai
da mentira, e príncipe do mundo”. Na sequência, o apóstolo Paulo, em todas as
suas cartas, amedronta os cristãos de sua época fomentando a existência do
Diabo. É São Pedro (5:8) quem afirma em seu evangelho: “Sede sóbrios e
vigilantes. O diabo, vosso adversário, anda de derredor, como o leão que ruge
procurando alguém para devorar; resisti-lhe firmes na fé”. É no Apocalipse,
entretanto, escrito em torno do ano 100 d.C., que finalmente é estabelecida a
conexão entre a revolta de Lúcifer, que levou a queda deste e da terça parte
dos anjos; a queda de Adão e Eva no episódio da serpente no paraíso; a tentação
de Jesus; e o grande Armagedon: batalha final do bem contra o mal.
Apocalipse 12:7-9
7 - E houve batalha no
céu; Miguel e os seus anjos batalhavam contra o dragão, e batalhavam o dragão e
os seus anjos;
8 - Mas não
prevaleceram, nem mais o seu lugar se achou nos céus.
9 - E foi precipitado
o grande dragão, a antiga serpente, chamada o Diabo, e Satanás, que engana todo
o mundo; ele foi precipitado na terra, e os seus anjos foram lançados com ele.
Robert
Muchembled, no livro Uma história do Diabo, resume as conexões da
trajetória de Lúcifer/Serpente/Satanás/Diabo:
Precisaram, assim,
casar a história da serpente com a do rebelde, do tirano, do tentador, do
sedutor concupiscente e do dragão todo-poderoso. Um autor declarou recentemente
que a vitória do cristianismo neste domínio consistiu em tomar emprestado um
dos mais importantes modelos narrativos do Oriente Próximo: o mito cósmico do
combate primordial entre os deuses, que tem na condição humana seu desafio
fundamental. Esta versão pode, segundo ele, ser assim resumida: um diabo
rebelde ao poder de Jeová faz da terra uma extensão de seu império para nela
reinar pelo poder do pecado e da morte. ―Deus deste mundo‖, como o denomina São
Paulo, ele é combatido pelo filho do Criador, o Cristo, por ocasião do mais
misterioso episódio da história cristã, a Crucificação, que combina uma derrota
e uma vitória simultâneas. A função de Cristo no decurso dessa luta, que só
terminará no fim dos tempos, é ser o libertador potencial da humanidade, em
confronto com Satã, seu adversário por excelência (MUCHEMBLED, 2001, p. 19).
INICIO DE UMA CONCLUSÃO
Poderíamos
chegar a uma conclusão de que o mesmo Deus que faz o bem cria o mal. No fim de
tudo ele é o principal gerador de todas as coisas tanto o bem quanto o mal. Os
textos Sagrados narram Sua identidade, mas Deus está escondido para muitos.
Apenas os iluminados, “escolhidos”, ou aqueles que desejam e buscam a verdade
poderão ver sua glória.
“A glória de Deus está nas coisas encobertas; mas a honra
dos reis, está em descobri-las.” (Pv 25.2)
Daniel 2:28
Mas há um Deus no céu, o qual revela os mistérios:
Daniel 2:29
Estando tu, ó rei, na tua cama, subiram os teus pensamentos,
acerca do que há de ser depois disto. Aquele, pois, que revela os mistérios te
fez saber o que há de ser.
Mateus 13:11
Ele, respondendo, disse-lhes: Porque a vós é dado conhecer
os mistérios do reino dos céus, mas a eles não lhes é dado;
Lucas 8:10
E ele disse: A vós
vos é dado conhecer os mistérios do reino de Deus, mas aos outros por
parábolas, para que vendo, não vejam, e ouvindo, não entendam.
I Corintios 4:1
QUE os homens nos considerem como ministros de Cristo, e
despenseiros dos mistérios de Deus.
Continua.........
Rv.
Roberto Muzy